domingo, 30 de outubro de 2011

Artigo

CONCEPÇÕES DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE DO GRUPO MULTIPROFISSIONAL DE SAÚDE MENTAL DOS CAPS DE PALHOÇA E CAÇADOR SOBRE O TRABALHO DO NATURÓLOGO NO CAPS


Carolina Aguila Pinhal[1]
Glória Aberg Cobo[2]
Fernando Hellmann[3]


RESUMO: A presente pesquisa objetiva refletir sobre as concepções dos profissionais de saúde que trabalham nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) catarinenses a respeito do profissional Naturólogo como integrante do grupo multiprofissional da Saúde Mental. Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo e de campo, realizado com quatro profissionais de saúde trabalhadoras dos CAPS, onde há Naturólogos inseridos, o CAPS II de Palhoça e o CAPS AD de Caçador. A possibilidade de entender a concepção que essas profissionais possuem a cerca do curso de Naturologia e dos profissionais Naturólogos visa compreender como está se construindo a imagem do profissional Naturólogo na Saúde Mental. Para a coleta de dados, utilizaram-se entrevista semi-estruturada e diário de campo. Os dados foram analisados através de categorias selecionadas a partir dos objetivos da pesquisa e fundamentadas através de um referencial teórico. Na análise de dados, ressalta-se que a atuação dos Naturólogos na saúde mental pode contribuir para a ampliação da prática terapêutica em saúde.


Palavras-chave: Profissionais da saúde. Naturologia. Saúde Mental. CAPS.


1 INTRODUÇÃO


            O tema do presente artigo refere-se ao trabalho do Naturólogo na concepção dos profissionais de saúde que trabalham em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) catarinenses onde há Naturólogos inseridos. Os CAPS nasceram com a reformulação da Psiquiatria e, atualmente, são redes assistenciais que atendem pessoas com transtornos mentais.
Estudos apontam que as enfermidades mentais no passado foram atribuídas a fenômenos sobrenaturais. Fenômenos que foram se transformando em conceitos mais estruturados com o decorrer do progresso científico (RIBEIRO, 1996).
A Psiquiatria e os hospitais psiquiátricos surgiram, no âmbito da Medicina, como resultado de rigorosos estudos a cerca dos fenômenos que envolvem a doença mental. No Brasil, a internação de pessoas portadoras de transtornos mentais remonta à metade do Século XIX. Desde então, a atenção aos portadores de transtornos mentais passou a ser conhecida como o tratamento realizado durante o período de internação em hospitais psiquiátricos especializados (BRASIL, 2010). O atendimento hospitalar psiquiátrico concentrava-se nos grandes centros, deixando as regiões mais carentes isentas de assistência em saúde mental.
Em 1988, com a proclamação da Constituição, criou-se o Sistema Único de Saúde (SUS) e, então, estabeleceram-se as condições institucionais para introduzir novas políticas de saúde, entre as quais, a de saúde mental (BRASIL, 2010).
Com a Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial de Saúde, em 1990, teve-se a Conferência Regional para a Reestruturação da Atenção Psiquiátrica na América Latina, objetivando uma revisão crítica do papel dos hospitais psiquiátricos. Essa reestruturação foi incentivada pela experiência italiana de desinstitucionalização dos doentes mentais. Conforme diz Silva e colaboradores (2006, p.4):

Todo esse movimento, inspirado na reforma feita na Itália alguns anos antes tinha como objetivo modificar o modelo de atendimento psiquiátrico no Brasil, reduzindo os leitos psiquiátricos e aumentando o número e a cobertura de atendimento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), unidades de atendimento intensivo e diário aos portadores de transtornos mentais. Criados como alternativa ao modelo centrado no hospital psiquiátrico, caracterizado por internações de longa permanência e regime asilar, os Centros de Atenção, ao contrário, permitem que os usuários permaneçam junto às suas famílias e comunidades, melhorando a qualidade de vida do interno.

            Em Santa Catarina (SC), existem 60 CAPS, com centros de atendimento nos municípios de: Abelardo Luz, Araranguá, Balneário Camburiú, Brusque, Campos Novos, Canoinhas, Capinzal, Cocal do Sul, Concórdia, Curitibanos, Dionísio Cerqueira, Garopaba, Gaspar, Herval do Oeste, Içara, Imbituba, Indaial, Itaiópolis, Itapema, Jaraguá do Sul, Joaçaba, Laguna, Mafra, Orleans, Palhoça, Papanduva, Ponto União, Quilombo, Rio do Sul, Rio Negrinho, São Joaquim, São Lourenço do Oeste, Siderópolis, Timbó, Tubarão, Urussanga, Videira, Xanxeré e Xaxim; dois CAPS em Criciúma, Lajes e Caçador e, três em Blumenau, Chapecó, Itajaí, Joinville e Florianópolis (Governo de Estado de Santa Catarina, 2010).
            Dentre esses CAPS, apenas dois possuem Naturólogos atuando, o CAPS II, de Palhoça, e o CAPS AD, de Caçador, nos quais se realizou esta pesquisa.
Foi com o projeto de extensão do Programa Linha Verde (PLV), intitulado “Naturologia no CAPS”, realizado no CAPS II, de Palhoça – SC, no 2º semestre de 2006, a primeira iniciativa que proporcionou à Naturologia oferecer atendimentos às pessoas com transtornos mentais dentro dos CAPS. Esse primeiro projeto deu abertura ao profissional Naturólogo para atuar em outros CAPS, tais como acontece no CAPS AD, de Caçador – SC, onde há um profissional Naturólogo contratado (UNISUL HOJE, 2009).
Torna-se necessário esclarecer que o bacharelado de Naturologia Aplicada é norteado pelas áreas de humanas, biológicas e da saúde. Propõe uma abordagem multidimensional frente ao ser humano, levando em consideração aspectos físicos, emocionais, mentais e sociais. Estudam-se, durante a graduação, práticas e métodos naturais, tradicionais e modernos para o cuidado humano, onde a proposta é desenvolver e ampliar a autorreflexão, o autoconhecimento e o autocuidado. Utiliza-se uma abordagem de Educação em Saúde, que pretende desenvolver o entendimento da corresponsabilidade da pessoa frente à sua saúde integral (RODRIGUES; HELLMANN; SANCHES, 2009).
O profissional Naturólogo utiliza como instrumento de intervenção os conhecimentos técnicos das Práticas Integrativas e Complementares: Cromoterapia, Massoterapia, Musicoterapia, Arteterapia, Florais, entre outras. Mediante essas intervenções, o Naturólogo visa à expansão, manutenção e recuperação da saúde, assim como a melhoria da qualidade de vida das pessoas (RODRIGUES; HELLMANN; SANCHES, 2009).
Há similaridades entre a Naturologia e a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do SUS, que entrou em vigor com a Portaria Ministerial nº. 1.600/2006.

Esta política atende, sobretudo, à necessidade de se conhecer, apoiar, incorporar e implementar experiências que já vêm sendo desenvolvidas na rede pública de muitos municípios e estados, entre as quais destacam-se aquelas no âmbito da Medicina Tradicional Chinesa-Acupuntura, da Homeopatia, da Fitoterapia, da Medicina Antroposófica e do Termalismo-Crenoterapia. (BRASIL, 2006, p.4).

Fundamentada no modelo de atenção humanizada e centrada no ser integral, a PNPIC atua no campo da prevenção, promoção, manutenção e recuperação da saúde. Enfatiza a escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na re-conexão do ser humano com o meio ambiente. Considera o ser humano em sua dimensão global, porém sem perder de vista a sua singularidade. Essa visão contribui para a expansão da co-responsabilidade das pessoas por sua saúde (BRASIL, 2006).
Atentando-se a essas similaridades, entre a PNPIC do SUS e a proposta da Naturologia, percebem-se potenciais positivos no direcionamento do Naturólogo a essas redes assistenciais do SUS, como os CAPS. Essa possibilidade já vem ocorrendo em dois CAPS catarinenses, como dito anteriormente (Palhoça e Caçador).
            Considerando a Naturologia como uma área em desenvolvimento, tornou-se relevante conhecer a concepção dos profissionais de saúde atuantes nos CAPS sobre o profissional Naturólogo no âmbito da saúde mental. A opinião do meio externo é tão importante quanto a que está sendo formada interiormente no curso de Naturologia Aplicada. A partir da manifestação dessas opiniões, é possível promover mudanças, caso necessário, a fim de melhorar o perfil do profissional Naturólogo.
Esta pesquisa reveste-se de relevância acadêmica, ao contribuir com material científico capaz de servir de base para posteriores estudos sobre o assunto.


2 PERCURSO METODOLÓGICO


Esta pesquisa tem abordagem qualitativa e caracteriza-se, ainda, como pesquisa de campo de tipo exploratório-descritivo. A investigação foi realizada com profissionais da área da saúde, trabalhadores de dois CAPS catarinenses onde há Naturólogos inseridos, sendo um CAPS situado no município de Palhoça e o outro no município de Caçador.
Participaram dessa pesquisa quatro profissionais da saúde do sexo feminino, com idade entre 27 e 40 anos, sendo três profissionais, trabalhadoras do CAPS de Palhoça e uma do CAPS de Caçador. Todas as participantes responderam aos critérios de inclusão adotados, ou seja, serem graduadas na área da saúde, serem trabalhadoras do CAPS, ter trabalhado ou trabalhar em CAPS onde haja Naturólogos inseridos, dispor de tempo para a pesquisa, mostrar interesse e concordar em participar da investigação, assinar o termo de consentimento livre e esclarecido e dar autorização para publicação de resultados do informante de pesquisa.
            Seguido esses critérios, a coleta de dados foi realizada através de entrevistas semiestruturadas e de um diário de campo. O diário de campo caracterizou-se como um guia escrito do que foi escutado, visto e experienciado durante as entrevistas (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
As entrevistas feitas no CAPS de Palhoça foram registradas através de um gravador digital de voz (com prévio consentimento das entrevistadas) e, posteriormente, transcritas, na íntegra, garantindo o registro de todas as falas. Através do diário de campo, documentou-se o contexto da pesquisa e também as variáveis que interferiram na mesma, como por exemplo, a mudança na entonação da fala da entrevistada, interrupção da equipe que trabalha no CAPS, a presença de outras pessoas durante a entrevista e o ambiente em que foi realizada essa entrevista, ou seja, uma entrevista foi efetuada em uma sala trancada a chave, a outra entrevista foi executada em uma sala aberta e uma entrevista realizada com a porta encostada. Essas variáveis foram apontadas e descritas na leitura do contexto da pesquisa, já que as mesmas podem ter influenciado a maneira de como a pessoa respondeu e se expressou perante determinado assunto.
 No CAPS de Caçador, as entrevistas foram realizadas a distância, ou seja, as perguntas referentes à entrevista e ao Termo de Consentimento foram enviadas via correio. A pessoa respondeu às questões e reenviou-as à pesquisadora, ficando impossibilitado o uso de gravador de voz e o diário de campo, variáveis que interferem no resultado da pesquisa. A realização das entrevistas nesse contexto a distancia foi necessária devido à indisponibilidade de tempo, em comum acordo entre a entrevistada e a pesquisadora frente à urgência para a finalização desta pesquisa, requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Naturologia.
            Os dados coletados durante as entrevistas foram tratados através da análise de conteúdo: primeiramente, foi efetuado um recorte dos conteúdos em elementos, que foram agrupados em função de sua significação. Em seguida, esses elementos foram ordenados dentro de categorias e, posteriormente, em subcategorias. Atenta-se, que a definição das categorias seguiu a análise do Modelo Aberto (a posteriori), ou seja, as categorias tomaram forma no curso da própria análise (LAVILLE; DIONNE, 1999).
Torna-se evidente, que as categorias foram selecionadas a partir dos objetivos da pesquisa. Categorias que se relacionem ao entendimento que os profissionais de saúde têm acerca do trabalho do Naturólogo, e qual a compreensão dos profissionais de saúde, trabalhadores do CAPS, a respeito da ação do Naturólogo no trabalho multiprofissional em saúde mental.
Realizada, então, essa categorização, a leitura teórica foi fundamentada através das teorias sociológicas, antropológicas, psicológicas, material referente ao Sistema Único de Saúde (SUS), e teorias naturológicas, usadas durante o curso de graduação. Esses materiais teóricos recolhidos contribuíram para a complementação durante o processo da análise. Torna-se importante alegar que os resultados não são generalizáveis.
Considerando a preocupação e as normas éticas em pesquisa envolvendo seres humanos, o projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNISUL, sob o protocolo 09.209.4.06 III. Para manter o anonimato dos participantes, utilizaram-se como identificadores das falas cognomes fictícios.


3 CONSIDERANDO AS CATEGORIAS


Com a organização e a análise dos dados oriundos das entrevistas foram identificadas seis grandes categorias e respectivas subcategorias. Tais como: (1) Estigma e (2) Concepções de Naturologia, com as subcategorias Não Sei e Percepções; (3) Educando para Saúde e (4) Em busca de um olhar humanizado, com as subcategorias Benefícios, Entrando para equipe mínima e Ampliando Possibilidades; (5) O Cuidado do Naturólogo e (6) Trabalhando em Equipe.
Permeando as categorias, emergem três grandes grupos principais que se destacaram nas falas das entrevistas, um deles versando sobre a Naturologia, outro sobre a Pessoa do Naturólogo e o terceiro, abordando a Profissão Naturólogo. Assim, foi possível perceber a compreensão das profissionais de saúde, trabalhadoras de CAPS catarinenses onde há Naturólogos inseridos a cerca do trabalho do Naturólogo como integrante do grupo multiprofissional da saúde mental como será explicado a seguir.


3.1 Estigma


“O normal e o estigmatizado não são pessoas, e sim perspectivas que são geradas em situações sociais durante os contatos mistos, em virtude de normas não cumpridas que provavelmente atuam sobre o encontro”. (GOFFMAN, 1988, p.149).


Emerge, através do discurso das entrevistadas, uma das principais categorias que contribuem para o entendimento que essas profissionais possuem acerca da Pessoa do Naturólogo, envolto, quase sempre por um estigma.
            Estigma, termo criado pelos gregos (stígma) e pelos latinos (stigma), refere-se a algum sinal corporal que tenha a intenção de evidenciar algo extraordinário ou negativo sobre o status moral de quem os representa. Na Antiguidade, a pessoa estigmatizada era carimbada e deveria ser evitada, principalmente em ambientes públicos. Houaiss e Villar (2009, p.834), apresentam o termo como sinal “infamante outrora aplicado, com ferro em brasa, nos ombros ou braços de criminosos, escravos etc”. A abreviatura faz entender que também os “loucos”, ou portadores de doença mental, eram marcados. O conceito modificou-se com o tempo (GOFFMAN, 1988). Atualmente, o termo estigma pode estar associado a questões de identidade social.
            Na sociedade, são estabelecidos meios de categorizar as pessoas e diferenciá-las entre aquelas ditas normais e comuns e aquelas consideradas diferentes e/ou loucas. Através dessas classificações, são formadas as identidades sociais, cada qual com seus atributos e estereótipos.
            Como Goffman (1988) menciona, há três diferentes tipos de estigma, sendo o primeiro referente às variadas deformidades físicas, o segundo, sobre as dificuldades de caráter individual, tais como alcoolismo, distúrbio mental, prisão, vícios, desempregos, tentativas de suicídios, entre outras. O terceiro, refere-se aos estigmas tribais de raça, religião e nação.
            Nesse sentido, as relações humanas estão envoltas por estigmas. No que concerne à fala de algumas das entrevistadas, percebe-se o estigma criado em torno da pessoa do Naturólogo, como relata Joana ao se referir aos acadêmicos:
           
[...] o público assim que procura o curso, é um público bem diferente... Na forma de se vestir, e de se comportar assim, eu sempre digo a ele, sempre digo que é exótico, né!

            Joana menciona que as pessoas que procuram a Naturologia se enquadram em um tipo de estigma, ou seja, o diferente, o exótico. Isso tanto em sua maneira de ser perante a sociedade quanto à forma de se vestir e/ou de se comportar. Outra entrevistada, Amanda, apoia essa mesma idéia, quando comenta:

[...] o estilo de vida que muitas pessoas que estudam Naturologia acabam chocando um pouco na hora da inserção social... tem um preconceito demais, que a questão do estilo de vida e tal, e que isso na faculdade eu noto, pelo menos ali na Unisul.

            Aquele que é estigmatizado possui características e atributos diferentes daqueles que caracterizam determinado grupo e/ou profissão, notam-se diferenças que as definem. Como observado durante as entrevistas, A Pessoa do Naturólogo na concepção desses profissionais apresenta esse estereótipo do diferente, do exótico. Essa última entrevistada, Amanda, cita, ainda, a questão do preconceito, da qual os profissionais Naturólogos podem enfrentar na sociedade.
Heller (1989) comenta que o preconceito é um tipo específico de juízo provisório. Então, entende-se que seria fazer um julgamento prematuro, sobre algo ou alguém em questão.
Os juízos provisórios refutados pela ciência ou por uma análise apurada, mas que permanecem inabalados contra todos os argumentos da razão, são considerados preconceitos. Pode-se dizer que há uma fixação afetiva no preconceito, ou seja, existem afetos que se ligam a opiniões e convicções sobre algo (HELLER, 1989).
Nesse sentido, encontram-se juízos de valores em volta do preconceito sobre algo ou alguém e, no que concerne à pessoa do Naturólogo, esse acaba sendo carimbado e até mesmo excluído num primeiro momento, por falta de conhecimento sobre o que é a Naturologia.
Assim, tenta-se compreender o processo que levou essas profissionais a estigmatizarem os Naturólogos, ou seja, esse novo profissional, para elas, é diferente e exótico. Esse aspecto deixa margem a reflexão. Torna-se necessário maior entendimento acerca dos motivos que levaram ao desígnio desse estigma.


3.2 Concepções de Naturologia


“Que idéia tenho eu das cousas?”. (PESSOA, 2005, p.23).


Pelas entrevistas, objetivou-se saber, qual o entendimento das profissionais sujeitos desta pesquisa a respeito da Naturologia e do profissional Naturólogo. As respostas dadas originaram, então, a categoria Concepções de Naturologia.
A graduação de Naturologia, como explicado anteriormente, aborda o ser humano de maneira multidimensional (físico, emocional, mental e social) e é orientada pelas áreas humanas, biológicas e da saúde. Durante o curso aprendem-se práticas e métodos tradicionais, naturais e modernos direcionadas ao cuidado humano. O profissional Naturólogo, através de suas intervenções, objetiva a recuperação, manutenção e expansão da saúde no sentido de proporcionar melhoria na qualidade de vida (RODRIGUES; HELLMANN; SANCHES, 2009).
            Essa aproximação do que vem a ser Naturologia demonstra de forma geral o que propõe o curso de Naturologia Aplicada.
Quando indagadas sobre o que entendiam por Naturologia, as entrevistadas ficavam em silêncio ou gaguejavam (percepções referentes às anotações do diário de campo).
Atentando-se às falas iniciais das entrevistadas, referentes ao seu entendimento sobre a Naturologia, distingue-se a subcategoria Não Sei, como a própria Carla pronuncia: 

Não sei...

            Joana já comenta o fato de não ter estudado sobre o curso de Naturologia, dizendo:
Então, eu nunca estudei sobre a Naturologia, então, né!

            Enquanto que Amanda reconhece ter pouco conhecimento sobre:

[...] o que eu entendo por Naturologia? Com o pouco conhecimento que eu tenho...
           
Essas falas demonstram que as profissionais entrevistadas apresentam ainda pouco conhecimento sobre o curso de Naturologia, considerando que trabalham há algum tempo em contato com os profissionais Naturólogos. Como coletado, uma entrevistada trabalha no CAPS II de Palhoça com a presença dos Naturólogos há, aproximadamente 4 anos, outra há 7 meses e uma outra há mais ou menos 1 ano e 10 meses.
            Contudo, Silva (2008) comenta que, a definição sobre o que é Naturologia é uma tarefa complexa, pois não existe, ainda, um estatuto epistemológico nem profissional que delimite a Naturologia enquanto ciência. Essa compreensão pode indicar a dificuldade encontrada por essas profissionais, no que concerne ao conceito de Naturologia.
            Considerando-se essa primeira observação a respeito do que entendiam sobre Naturologia, foi questionada qual a percepção que essas profissionais têm do trabalho do profissional Naturólogo, emergindo, então, outra subcategoria intitulada Percepções. A percepção, segundo Fernandes (2006), caracteriza-se por ser pessoal e subjetiva, sendo orientada pelas experiências pessoais e pela história de vida da pessoa que percebe. Joana aponta sua percepção sobre o profissional Naturólogo dizendo:

Eu acredito que é um profissional que está comprometido com a questão da saúde e doença, que ele atua não só na recuperação da saúde, mas também na promoção e na prevenção...

            O profissional Naturólogo, segundo Joana, orienta-se em consonância com a proposta do SUS, ou seja, tem a intenção de atuar na promoção, prevenção e recuperação da saúde e, assim, contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, tais como Amanda relata:

...eu entendo que é uma profissão que tem um conhecimento específico que é direcionada com uma qualidade de vida que usa técnicas, a grande base é naturais... práticas naturais. Eu acho que é isso.

            O profissional Naturólogo utiliza das práticas integrativas como método terapêutico e, como dito anteriormente, existe no SUS a PNPIC que legitima essa necessidade e abre a possibilidade de enriquecimento da prática terapêutica clínica.
A Naturologia propõe um olhar humanizado na prática terapêutica, em consonância com a PNPIC que, também, baseia-se em um modelo de atenção humanizada e centrada na integralidade do indivíduo (BRASIL, 2006).
 Assim, Carla enuncia:

[...] é um pessoal muito humanizado... Eu também acho muito interessante a postura do Naturólogo, sempre uma postura de troca.

            A Naturologia reconhece que o processo terapêutico se dá em uma atitude de interdependência, através da qual se tem a inauguração do neologismo interagência, que designa a relação humanística que ocorre na terapêutica. Na interagência, a pessoa cuidada é chamada “interagente”, ou seja, enfatiza-se o aspecto relacional da terapia e o seu caráter ativo, ao invés do termo paciente, relacionado à passividade e cliente, palavra utilizada no âmbito comercial (HELLMANN e WEDEKIN, 2008).
            Desse modo, o Naturólogo procura atuar na prática terapêutica e percebe-se no decorrer dessa categoria, que essas profissionais em, um primeiro momento, hesitaram ao comentar o que entendem por Naturologia. Em seguida, articularam suas próprias percepções sobre esse profissional, o que trouxe aspectos relevantes no que concerne à atuação do Naturólogo em ressonância com as propostas do SUS.
             Assim, emerge outro aspecto importante no decorrer da entrevista, ou seja, uma ênfase na educação. Tem-se no SUS, a intenção de promover ações que visem uma atitude educativa no âmbito da saúde e que fomente nas pessoas um senso de responsabilidade pela sua própria saúde, a saúde da comunidade a qual pertencem e, também, a capacidade de participar da vida comunitária de uma maneira mais construtiva (PEREIRA, 2003). Então, daí surge uma nova categoria: Educando para saúde.

3.3 Educando para saúde


“[...] a educação é um processo de vida, haja vista que esta é uma longa experiência”. (ROCHA, 2006, p.1).


O intuito da ação educativa em saúde é desenvolver no ser humano a capacidade de analisar criticamente a sua realidade e através disso, ampliar as condições para apropriar-se de sua própria existência (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).
De acordo com Candeias (1997, p.210), entende-se por educação em saúde “quaisquer combinações de experiências de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à saúde”.
A educação em saúde, segundo Costa e López (1996, apud ALVES, 2005, p.43), “constitui um conjunto de saberes e práticas orientados para a prevenção de doenças e promoção da saúde”. Através desse recurso, o conhecimento científico, mediado pelos profissionais de saúde, alcança o dia a dia das pessoas, sendo que a compreensão dos condicionantes referentes ao processo saúde-doença oferece subsídios para a possibilidade de novos hábitos e condutas de saúde (ALVES, 2005).
A educação em saúde está presente no âmbito de estudo do profissional Naturólogo e se faz notável na medida em que se orienta o uso racional dos recursos naturais, hábitos e condutas saudáveis, auxilia na conscientização das emoções, dentre outros (RODRIGUES, 2008). Joana, no decorrer das entrevistas cita:

[...] outra coisa que eu acho legal é isso também, é, Educação em Saúde, além de vocês (Naturólogos) praticarem aqui no consultório, vocês ensinam e a pessoa consegue praticar em casa.

            Torna perceptível a essa entrevistada que o Naturólogo tem demonstrado uma ação no âmbito da educação em saúde.
A educação em saúde, na Naturologia, se configura em uma educação dialógica e participativa, ou seja, não sendo pautada na simples transmissão do conhecimento tido como verdadeiro (HELLMANN, 2009).
            Essa proposta, educação em saúde, caminha na direção de proporcionar as pessoas uma participação mais efetiva no que concerne à responsabilidade sobre sua saúde. Porém, no sentido de alcançar essa intenção, concerne desenvolver um novo olhar perante o ser humano. Configura-se, então, a categoria Em busca de um olhar humanizado.


3.4 Em busca de um olhar humanizado


“[...] humanismo é isto: meditar, e cuidar para que o homem seja humano e não dês-humano, inumano, isto é, situado fora de sua essência”. (HEIDEGGER, 1983, p.152).


            Mostra-se relevante, no contexto atual, a temática humanização do atendimento, pois a constituição preza princípios como a integralidade da assistência, a equidade, a participação social do usuário, dentre outros, das quais demanda uma revisão das práticas cotidianas, maior ênfase na criação de espaços de trabalho menos alienantes e que valorizem a dignidade dos usuários e dos profissionais (CASATE; CORRÊA, 2005). Por conseguinte, é necessária uma atitude de compreensão frente à experiência do ser humano no seu processo vivenciado.
            Como afirma Brüggemann, (2003, p.48), humanização “é uma atitude de respeito à dignidade e à natureza humana, voltada para a essência, singularidade, totalidade e subjetividade do homem”. Assim, torna-se necessário valorizar o ser humano em sua singularidade e em sua história de vida em particular, respeitando-o. É o que faz a Naturologia Aplicada.
            O profissional Naturólogo propõe trabalhar numa perspectiva do cuidado humanizado, que envolve a escuta acolhedora, o desenvolvimento do vínculo terapêutico e preconiza a autonomia do sujeito (RODRIGUES; HELLMANN; SANCHES, 2009). Uma das entrevistadas, Carla, enuncia quanto aos profissionais Naturólogos:

[...] é um pessoal muito humanizado...

Carla tem essa consideração quanto aos estagiários de Naturologia que trabalham no CAPS de Palhoça. Essa característica principia a subcategoria Benefícios, onde as entrevistadas expõem alguns aspectos positivos referentes ao trabalho dos Naturólogos.
            Amanda comenta:

[...] eu vejo os benefícios das práticas na qualidade de vida, né? No estado emocional, dos usuários... Aqui dentro, sabe, essa contribuição é nítida... A gente consegue perceber nitidamente a evolução do paciente, os benefícios da Naturologia com as práticas.

            A Naturologia, com sua proposta de abordar o ser humano de forma integral, intenta a promoção, a manutenção e a recuperação da saúde, aspectos que se integram aos ideais do SUS, como já enunciado na PNPIC. Dessa maneira, a Naturologia, integrada a essa proposta, vem sendo reconhecida e valorizada, como se evidencia através da observação de Joana:

[...] eu acho que é um dos lugares que mais a Naturologia se enquadra, né! Porque tudo que vocês trazem é positivo... Eu vejo a Naturologia vindo somar dentro de nosso serviço.

            Atentando-se a essa abertura, emerge uma segunda subcategoria intitulada Entrando para Equipe Mínima.
O Ministério da Saúde (2007, p.16) aponta o direito inerente a todas as pessoas: “à continuidade do cuidado, à habilidade de assegurar todas as intervenções necessárias à resolução do problema de saúde de cada pessoa que utiliza o sistema”. Nesse sentido, sugere-se a disponibilidade a todos dos recursos necessários para manter a saúde de alguém. Denota-se, então, a possibilidade do profissional Naturólogo de estar contribuindo com mais um tipo de intervenção no cuidado à saúde.
 As entrevistadas reconhecem essa possibilidade dentro do CAPS, como aponta Joana:
           
[...] eu acho que é uma área que poderia tá aí, entrando pra equipe mínima de um CAPS, que eu acho bem positivo...

            Nessa mesma linha de raciocínio, Carla complementa dizendo:

Eu acho de extrema importância... Seria essencial ter um Naturólogo que pudesse tá se envolvendo nessas atividades, até está coordenando, porque eu acredito que se tivesse um Naturólogo aqui no CAPS poderia ter mais grupos de estudantes.

            Percebe-se na fala de Carla, a necessidade de existir um Naturólogo contratado coordenando os estudantes (estagiários e voluntários) da Naturologia que atendem dentro do CAPS de Palhoça. A presença de um Naturólogo contratado oportuniza participação mais efetiva na rotina de um CAPS e, assim, a possibilidade de ampliar o grupo de estudantes nesse CAPS e em outros que ainda não contam com os serviços de um Naturólogo.
            Assim, surge outra subcategoria chamada Ampliando Possibilidades, que sugere a necessidade de aumentar a quantidade de atendimentos de Naturologia durante a semana dentro do CAPS, o que exigiria um espaço físico maior para suprir essa demanda, como sugere Carla:

Que eu acho que seria legal, é que a Naturologia viesse mais vezes ao CAPS, porém a gente não tem um espaço, sabe...

            No decorrer das entrevistas, apareceram outras falas expressando essa necessidade, como diz Joana:

[...] gostaria que fosse mais vezes por semana, e que não ficasse o período de férias sem alguém, porque eles sentem bastante, né!... Precisaria de pelo menos um estagiário que pudesse, porque ele iria participar de vários momentos, né!

            A fala de Joana também envolve a necessidade de uma continuidade maior nos atendimentos da Naturologia, que demanda um profissional Naturólogo contratado. Essa continuidade nos atendimentos poderá contribuir para o fortalecimento do vínculo terapêutico entre interagentes e Naturólogos e a consideração por parte dos profissionais Naturólogos aos interagentes que necessitem de tratamento terapêutico prolongado.
            Conforme Pitiá e Santos (2005, p.65), o processo terapêutico apresenta quatro momentos fundamentais:

1) o início da relação, em que se fazem presentes sentimentos de suspeitas ou uma transferência maciça; 2) maior aceitação do vínculo; 3) consolidação do vínculo: momento de alto compromisso terapêutico e 4) finalização do acompanhamento: separação e despedida.

            Assim, com a presença de um Naturólogo em tempo integral no CAPS, o tratamento continuado poderá proporcionar maior aprofundamento na relação terapeuta-interagente.
            Essa categoria contribuiu demonstrando aspectos positivos a cerca do trabalho do Naturólogo realizado dentro desses CAPS, o que já acontece no CAPS de Palhoça, que conta com um profissional Naturólogo contratado, maior duração nos atendimentos, embora perdure a necessidade de maior espaço físico para a realização desses.
            Essa demanda vem sendo requisitada pelas entrevistadas, como percebido nas falas, anteriormente citadas. As entrevistadas já foram atendidas por um Naturólogo e expressaram o quão significativo foi esse tipo de cuidado. Tal observação gerou a categoria O Cuidado do Naturólogo.


3.5 O Cuidado do Naturólogo


“Para onde se dirige ‘o cuidado’, senão no sentido de reconduzir o homem novamente para sua essência?”. (HEIDEGGER, 1983, p.152).


O termo cuidado significa desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção. Cuidar envolve colocar-se no lugar do outro, geralmente em diversas situações, quer na dimensão pessoal, quer na social. É uma forma de estar com o outro, referente a situações especiais de vida das pessoas, tanto na promoção quanto na recuperação da saúde, no nascimento e também na própria morte (SOUZA et al., 2005).
Para Waldow (1998) a arte de cuidar envolve uma ação interativa. Essa ação está carregada de conhecimentos e valores do ser que cuida para e com o ser que é cuidado, sendo que esse passa a ser também cuidador. Nesse sentido, percebe-se o cuidado inerente ao ser humano.
Em Pessini e Bertachini (2004, p.34), o “cuidar humanizado implica, por parte do cuidador, a compreensão do significado da vida, a capacidade de perceber e compreender a si mesmo e ao outro, situado no mundo e sujeito de sua própria história”. Nesse sentido, o Naturólogo se propõe a atuar na relação terapêutica.
Tendo-se essa percepção, algumas entrevistadas comentaram sobre o atendimento que receberam de um profissional Naturólogo.

[...] eu queria fazer massagem terapêutica, mas eu não queria fazer com um esteticista ou com um fisioterapeuta, não por desmerecer essas profissões, mas eu acho que assim... Eu não sei se a esteticista teria visto meu quadro como foi visto por esse Naturólogo. (CARLA).

            Ao procurar um profissional Naturólogo, Carla considerou, no momento, a necessidade de um tipo de tratamento que a olhasse de maneira integral, bem como Hellmann (2009, p.15) preconiza: “A Naturologia preconiza um olhar voltado para a integralidade no cuidado à saúde humana, não apenas compreendendo o indivíduo enquanto unidade singular de vida, mas também como resultado da interrelação com o ambiente e sociedade”.
Outra entrevistada comenta:
           
Eu fui atendida por uma acadêmica... Aí fez reflexo, fez cromo, foi bem bom assim, porque me aliviou bastante. (JOANA).
           
Nesse sentindo, Joana fala sobre o instrumento característico da Naturologia: as práticas integrativas, usadas durante a terapêutica. Na Naturologia, as práticas integrativas se tornam mediadoras no cuidado à saúde.
Através desses pronunciamentos, as entrevistadas expuseram sua experiência pessoal com um profissional Naturólogo. Essa vivência que tiveram ao serem atendidas e a maneira pela qual foram cuidadas contribuem para a concepção que possuem sobre a Naturologia e o profissional Naturólogo.
Diante desses aspectos citados nas categorias anteriores, torna-se imperativo saber como está sendo efetivado o trabalho terapêutico dentro desses CAPS pesquisados, tanto no âmbito multiprofissional ou como no interdisciplinar; o conhecimento daí advindo mostrará como ocorre o relacionamento entre os profissionais da saúde e entre esses profissionais e a Naturologia. Surge, então, outra categoria: Trabalhando em Equipe.


3.6 Trabalhando em Equipe

“O que podemos construir juntos aqui?”. (HUNG, 1995, p.104).


Segundo Almeida Filho (1997), a multidisciplinaridade seria o conjunto de disciplinas que, ao mesmo tempo, trata de uma dada questão ou assunto, porém sem estabelecer entre os profissionais implicados uma interação efetiva. Recorre-se a informações de várias matérias para estudar um determinado elemento, sem a preocupação de interligar as especialidades em si. Um trabalho em equipe multiprofissional consistiria, então, em variados profissionais que trabalham próximos, cada qual com sua especialidade, porém eles não teriam uma interação efetiva entre si.
A interdisciplinaridade caracteriza-se pela relação de reciprocidade, de mutualidade, há cooperação e diálogo entre as disciplinas do conhecimento, tratando-se de uma ação coordenada. Supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento ou um plano de intervenção (CARLOS, 2010).
Peduzzi (1998) complementa que a equipe multiprofissional se refere à atuação conjunta de várias categorias profissionais enquanto um trabalho em equipe interdisciplinar seria a integração dessas várias disciplinas e áreas de conhecimento.
Corroborando essa reflexão, Carla aponta:

A idéia é interdisciplinar, a idéia é que se trabalhe em equipe...

            Outra entrevistada, Marta contribui dizendo:

Hoje, estamos avançando para uma equipe interdisciplinar, pois há mais interação entre os profissionais, cada um respeitando sua especificidade, mas ainda somos multiprofissional.
           
Atentando-se a essas falas, observa-se que o trabalho objetiva ser interdisciplinar, porém continua no âmbito multiprofissional. Almeida e Mishima (2001) comentam que esse é um dos grandes desafios para as equipes da Saúde, onde será necessária uma abertura desses profissionais, para um trabalho de maior interação entre os trabalhadores. Essa abertura, segundo Joana, já vem ocorrendo dentro de sua equipe e também com a Naturologia.

Eu com minha equipe, de forma interdisciplinar, eu com a outra equipe, em alguns momentos de forma multiprofissional. Com relação à Naturologia, de uma forma interdisciplinar, sempre!

            Almeida e Mishima (2001, p.151) explicam quese esta integração não ocorrer, corremos o risco de repetir o modelo de atenção desumanizado, fragmentado, centrado na recuperação biológica individual e com rígida divisão do trabalho e desigual valoração social dos diversos trabalhos”.
 Mediante essas considerações, pode-se identificar nos relatos dessas entrevistadas, que o trabalho em equipe nesses CAPS acima citados, ocorre ainda no campo multiprofissional e isso influencia os interrelacionamentos, na maneira de cuidar e de olhar o ser humano. Esse fato contribui para a concepção criada pelas entrevistadas a respeito da Naturologia. Apenas uma das entrevistadas elucida que o trabalho entre ela e a Naturologia já sucede de maneira interdisciplinar.


4 CONSIDERAÇÕES FINAIS


“Mais importante do que concluir uma trajetória é o conhecimento construído ao longo dela e a vontade crescente de continuar buscando”. (BRÜGGEMANN, 2003, p. 72).
           

Contemplando as percepções das profissionais de saúde desta pesquisa, destacaram-se três grandes grupos: a Pessoa do Naturólogo, o Profissional Naturólogo e a Naturologia. Pelas considerações dessas profissionais percebeu-se que a atuação dos Naturólogos vem acrescentando novas perspectivas no âmbito da saúde mental.
            Foi através de entrevistas que essas perspectivas se articularam e se expressaram em linguagem gesticulada, falada e escrita. Cada profissional da saúde, em sua singularidade, foi expondo o que concebia a respeito da Naturologia. Interagindo nesse diálogo, foi apreendido o modo de as entrevistadas se expressarem referente ao assunto em questão. Essas expressões fragmentadas foram ressaltadas na análise.
            Assim, realça a Pessoa do Naturólogo permeado, quase sempre, ao Estigma do diferente e/ou exótico. A pessoa do Naturólogo é considerada, frequentemente, diferente na forma de se comportar, de se vestir e quanto ao estilo de vida que leva. Isso pode gerar preconceitos e influenciar a inserção social destes, segundo essas profissionais da saúde.
            Considera-se que os estigmas são construídos em situações sociais. Aquele que é estigmatizado foge à regra do que foi considerado normal em determinada situação, e quem estigmatiza poderá ser estigmatizado, dependendo do contexto em que se encontra. O Naturólogo, nesse contexto, foi estigmatizado por essas profissões, assim como cada profissão foi, ou é estigmatizada, dependendo do contexto experienciado. Dessa forma, emergem margens para reflexão: serão os Naturólogos tão diferentes de outros profissionais da saúde?
            O Profissional Naturólogo, conforme a concepção manifestada pelas entrevistadas, é humanizado, comprometido com a saúde-doença e atua na recuperação, prevenção e promoção da saúde. Utiliza uma abordagem no âmbito da educação em saúde e sua ação é direcionada na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Dentre seus instrumentos, faz uso das práticas integrativas, tais como Cromoterapia, Geoterapia, Reflexoterapia, entre outras; e durante todo o processo terapêutico mantém uma postura de troca (interagência).
            Considerando-se esses aspectos, pode-se perceber a semelhança entre a intenção da PNPIC do SUS e a compreensão que as profissionais da saúde desta pesquisa expressaram sobre a postura do profissional Naturólogo e a Naturologia nesses CAPS.
            Além disso, as entrevistadas percebem a contribuição da Naturologia no enriquecimento da prática terapêutica dentro desses CAPS. Os benefícios na qualidade de vida dos usuários foram perceptíveis, o que forneceu suporte à valorização da Naturologia na saúde mental. Essa visão amplia a possibilidade de o Naturólogo estar participando mais efetivamente da equipe de saúde dentro desses CAPS. Para tanto, os CAPS, principalmente o de Palhoça, necessitaria de ampliação do espaço físico, o que cooperaria na oportunidade de mais profissionais atuarem e ofereceria atendimentos contínuos às pessoas necessitadas, assim como auxiliaria no fortalecimento do vínculo terapêutico, proporcionando um atendimento qualificado.
            Esta proposta tem a intenção de expandir e ampliar os atendimentos em saúde; contudo, na prática, a situação caminha em outros passos. Há, ainda, um trabalho em equipe multiprofissional dentro desses CAPS e a contribuição das profissões fica delimitada por esse modelo vigente. A finalidade é construir uma prática voltada para a interdisciplinaridade da saúde, objetivando não repetir um modelo de atenção desumanizado e fragmentado. Uma das entrevistadas expõe que o seu trabalho com a Naturologia ocorre a nível interdisciplinar. Assim, permanece uma questão: como seria o trabalho nos CAPS se todas as equipes trabalhassem de maneira interdisciplinar?
            Mostra-se expresso nesta pesquisa a importância de ampliar a equipe trabalhadora dos CAPS, incluindo os profissionais Naturólogos, já que contribuiria no enriquecimento da prática terapêutica da saúde mental. Essa possibilidade ampliaria o cuidado em saúde, e conforme legitima a PNPIC do SUS, as Práticas Integrativas e Complementares são experiências que já vem sendo desenvolvidas na rede pública de muitos municípios.
            Torna-se importante ressaltar que o profissional Naturólogo está em conformidade com a PNPIC do SUS, o que demonstra sua aptidão para atuar em consonância com essa Política, não somente no âmbito da saúde mental, mas também integrado às redes do SUS. Essa sugestão fica como motivo para reflexão e base para posteriores estudos sobre o assunto.
             Considera-se justo dizer que durante esta pesquisa houve envolvimento subjetivo entre a pesquisadora e o universo pesquisado, partindo-se da premissa de que afetamos e somos afetados pelo outro nas relações, como ocorre num processo de interagência. Assim, afetada pelo contexto, a pesquisadora, em interação com as entrevistadas, construiu essas concepções referentes à Naturologia, ao Profissional Naturólogo e à Pessoa do Naturólogo, três concepções interrelacionadas constituindo o reflexo do curso de Naturologia Aplicada na saúde mental.
            Para finalizar este trabalho, deixa-se expresso a consideração a novas perspectivas de atenção à saúde, como a Naturologia, e conforme Hung (1995, p.51):

Nenhum deles poderia mudar de lugar com o outro, mas todos exalam respeito mútuo, sabendo que cada um escolheu a vocação, o ambiente e o modo de vida mais apropriado para o emprego de sua própria força, seu próprio temperamento e seus talentos naturais. E mesmo assim cada um deles jamais se esquecerá da parte do outro que ficará para sempre no seu interior.


5 REFERÊNCIAS


ALMEIDA FILHO, N. Transdisciplinaridade e saúde coletiva. In: Ciência e saúde coletiva. Vol. II Rio de Janeiro: Abrasco, 1997.


ALMEIDA, M.C.P.; MISHIMA, S.M. O desafio do trabalho em equipe na atenção à
Saúde da Família: construindo ‘novas autonomias’ no trabalho. Interface – comunicação, saúde, educação 9, 2001. Disponível em:
http://www.interface.org.br/revista9/debates4.pdf. Acessado em 17 de maio de 2010.


ALVES, V.S. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface (Botucatu) [online], vol.9, n.16, pp.39-52, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/icse/v9n16/v9n16a04.pdf. Acessado em 19 de maio de 2010.


BOGDAN, R.C.; BIKLEN, S.K. Notas de campo. In BOGDAN, R.C.; BIKLEN, S.K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução às teorias e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.


BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Mental. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=24134. Acessado em 21 de maio de 2010.


BRASIL. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - PNPIC-SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica - Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em:


BRÜGGEMANN, O.M. A enfermagem como diálogo vivo: uma proposta de cuidado humanizado durante o processo do nascimento. In: OLIVEIRA, M.E.; BRÜGGEMANN, O.M. (org). Cuidado humanizado: possibilidades e desafios para a prática da enfermagem. Florianópolis: Cidade Futura, 2003.


CANDEIAS, N.M.F. Conceitos de educação e de promoção em saúde: mudanças individuais e mudanças organizacionais. Rev. Saúde Pública [online], vol.31, n.2, pp.209-213, 1997. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v31n2/2249.pdf. Acessado em 18 de maio de 2010.


CARLOS, J.G. Interdisciplinaridade: o que é isso? Interdisciplinaridade no ensino médio: desafios e potencialidades. Disponível em:


CASATE, J.C.; CORRÊA, A.K. Humanização do atendimento em saúde: conhecimento veiculado na literatura brasileira de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. v.13 n.1, Ribeirão Preto, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v13n1/v13n1a17.pdf. Acessado em 23 de maio de 2010.


FERNANDES, P.T.; LI, L.M. Percepção de estigma na epilepsia. J. epilepsy clin. neurophysiol. [online], vol.12, n.4, pp.207-218, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jecn/v12n4/a05v12n4.pdf. Acessado em 10 de maio de 2010.


GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.


GOVERNO DE ESTADO DE SANTA CATARINA. Secretaria de Estado de Santa Catarina. Endereços de CAPS em Santa Catarina. Disponível em:


HEIDEGGER, M. Conferências e escritos filosóficos. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.


HELLER, A. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1989.


HELLMANN, F. Reflexões sobre os referenciais de análise em bioética no ensino da Naturologia no Brasil à luz da bioética social. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Florianópolis: UFSC, 2009.


HELLMANN, F.; WEDEKIN, L.M. (ORG). O Livro das interagências: estudos de caso em Naturologia. Tubarão: Unisul, 2008.


HOUAISS, A.; VILLAR, M.S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de janeiro: Objetiva, 2009.


HUNG, T. Qualidade começa em mim: manual neurolinguístico de liderança e comunicação. 3.ed. São Paulo: Maltese, 1995.


LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999.


MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretoria de programas de educação em saúde. Educação em saúde: histórico, conceitos e propostas. Disponível em:


MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Avaliação de Desempenho do Sistema Único de Saúde. Secretaria executiva. Comitê Nacional de Avaliação de Desempenho do Sistema de Saúde. Brasília, 2007. Disponível em:


PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: a interface entre trabalho e interação [Tese]. Campinas: Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, 1998.


PEREIRA, A.L.F. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Cad. Saúde Pública [online], vol.19, n.5, 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/csp/v19n5/17825.pdf. Acessado em 23 de maio de 2010.


PESSINI, L.; BERTACHINI, L. (org.) Humanização e cuidados paliativos. 2.ed., São Paulo: Loyola, 2004.


PESSOA, F. Poesia completa de Alberto Caeiro. 4.ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2005.


PITIÁ, A.C.A.; SANTOS, M.A. Acompanhamento terapêutico: a construção de uma estratégia clínica. São Paulo: Vetor, 2005.


RIBEIRO, P.R.M. Saúde mental: dimensão histórica e campos de atuação. São Paulo: Pedagógica e universitária LTDA, 1996.


ROCHA, E.P. John Dewey: democracia e educação. Revista das faculdades de Educação, Ciência e Letras e Psicologia Padre Anchieta. Ano VIII, n.14, 2006. Disponível em: http://www.futuroeducacao.org.br/biblio/john_dewey_democracia.pdf. Acessado em 29 de maio de 2010.


RODRIGUES, D.M.O. A intervenção naturológica na visão multidimensional do ser. In: HELLMANN, F.; WEDEKIN, L.M. (Org.). O livro das interagências: estudos de casos em Naturologia. Tubarão: Unisul, 2008.


RODRIGUES, D.M.O.; HELLMANN, F.; SANCHES, N.M.P. In: KOZUCHOVSKI , P. (org.). Anais [do] II Congresso de Naturologia. II Encontro do Programa Linha Verde. Fórum Conceitual de Naturologia. Palhoça. Unisul, 2009.


SILVA; A.C.S.; CARDOSO, A.R.S.; FERREIRA, M.E.J. Limites da Reforma Psiquiátrica. Jornal do Conselho Regional de Psicologia. Ano 2. n.10, 2006. Disponível em:


SILVA, A.E.M. Naturologia: prática médica, saberes e complexidade. São Paulo: PUC - SP, 2008. Disponível em:


SOUZA, M.L.; SARTOR, V.V.B.;  PRADO, M.L. Subsídios para uma ética da responsabilidade em Enfermagem. Texto contexto - enferm. [online]. Vol.14 n.1, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v14n1/a10v14n1.pdf. Acessado em 23 de maio de 2010.


UNISUL HOJE. Naturologia mostra ações sobre saúde mental. Disponível em:


WALDOW V.R. Cuidado humano: o resgate necessário. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 1998.   




ABSTRACT: The present research aims to propose a reflection about the conceptions of healthcare professionals who work in the CAPS (Centers of Psicosocial Attention) from Santa Catarina about the Naturologist professional as part of the Mental Health's multiprofessinal group. It performs as a qualitative, descriptive field work, realized with four healthcare professionals working in CAPS's where there are Naturologists on staff: Caps II in Palhoça and in CAPS AD of Caçador. The possibility of understanding the conceptions those professionals have about Naturologists and Naturology course allow comprehension of how is being build the image of the Naturologist professional in the area of mental healthcare. For the collection of data it has been used a semi-structured interview and a field diary. The data was analyzed trough categories selected accordingly to the objectives of the research and fundamented trough a theoric reference. In the analysis of the data, it is highlighted that the acting of Naturologists in relation to mental healthcare can contribute to the ampliation of the therapeutical practice on healthcare.


Key-words: Healthcare professionals. Naturology. Mental healthcare. CAPS.





[1]Graduanda da 9ª fase do curso de Naturologia Aplicada da UNISUL. Email: tibediano@gmail.com.
[2]Orientadora e docente do curso de Naturologia Aplicada da UNISUL. Email:  gloria_abergcobo@hotmail.com.
[3]Co-orientador e docente do curso de Naturologia Aplicada da UNISUL. Email: mr_hellmann@hotmail.com.